Principal porta de saída do comércio exterior brasileiro, o Porto de Santos também é utilizado pelo crime organizado para o envio de drogas ao exterior especialmente a países da Europa. Para coibir a ação, além da rotina de inspeção da Polícia Federal e da Alfândega da Receita Federal, uma tropa muito especial ajuda a localizar substâncias ilícitas ocultas em cargas: os cães farejadores do canil da Guarda Portuária, corporação vinculada à Autoridade Portuária de Santos (APS). Além disso, os animais também são solicitados para atividades sociais, como visitas a crianças carentes e instituições de idosos.
Segundo o gerente de Operações da Guarda Portuária, Robson Gomes Santos, os cães do Canil da corporação são treinados para identificar odores de entorpecentes que estejam camuflados entre as diversas cargas. Atualmente, há quatro cães farejadores em atividade no canil, sendo três da raça pastor-belga- malinois (Boomer, Hulk e Hunter) e um border collie (Whisky). Eles têm entre 2 e 7 anos de idade.
Quanto às raças escolhidas, o representante da corporação disse que “são duas raças de cães com bastante energia e fáceis de adestrar. O pastor-belga-malinois também é treinado como cão de guarda e o Border Collie é muito ativo. Os nossos cães são basicamente de faro, porém, nós temos um que é preparado para ataque”, explicou Robson complementando ainda que nenhum deles é apto para resgate de pessoas.
“Por meio do faro dos cães, nós conseguimos inspecionar as cargas que não passam pelos escâneres e até em provisões para os navios. Conseguimos identificar drogas dentro de cargas superdimensionadas, em invólucros ou cargas que são lacradas. Como o nosso País faz fronteira com nações que trafica drogas, o nosso porto é muito visado pelo crime organizado para isso”.
De acordo com o gerente de Operações da Guarda Portuária, os cães também atuam durante a temporada de cruzeiros marítimos. Robson contou que, em uma oportunidade, os cães identificaram passageiras de um navio de cruzeiros portando entorpecentes, que estavam escondidos em partes íntimas. Graças aos cães, as mulheres e os demais comparsas denunciados por elas foram impedidos de embarcar no navio.
Entretanto, Robson ressaltou que os cães da Guarda Portuária são um auxílio ao trabalho de fiscalização e inspeção da Polícia Federal e da Alfândega da Receita Federal. “É um recurso a mais que faz a diferença nos pontos de vulnerabilidade onde os aparelhos de escâner não alcançam, por exemplo. Os nossos cães não substituem o trabalho dos órgãos federais”.
Robson comentou ainda que o processo de aposentadoria dos cães começa em torno de 8 a 9 anos de idade, quando eles ainda estão com a saúde plena. “É importante que quem for adotá-los possa desfrutar da vitalidade deles”, afirmou. Esta já é a terceira geração de cachorros treinados e adestrados pelos instrutores do Canil, que foi fundado em 2007. A equipe já prepara a sucessão para a próxima geração.
Além do dia a dia portuário, os cães também participam de atividades sociais quando são solicitados, como visitas a crianças carentes e instituições de idosos. Dessa forma, cria-se uma proximidade com a comunidade da Baixada Santista, demonstrando um pouco do trabalho da Guarda. “A experiência é sensacional. As pessoas ficam emocionadas, resgatam lembranças dos seus cães. Idosos que estão internados também se emocionam”comentou o gerente de Operações da Guarda Portuária.
DEMONSTRAÇÃO
Em duas demonstrações para A Tribuna, na sede da Autoridade Portuária de Santos(APS), um dos instrutores escondeu um objeto contendo alguns pinos de cocaína para Boomer localizá-lo. Primeiro, o artefato foi escondido debaixo de um carro, sobre um pneu, depois sob as flores no jardim.
O cão levou em torno de 20 segundos para encontrar o objeto nas duas demonstrações. Ele fareja toda a área e, assim que localiza o odor, fica abaixado no chão. Em troca, ganha um brinquedo ou grãos de ração do instrutor. “O cão tem cerca de 300 milhões de células olfativas enquanto o ser humano conta com 5 milhões. Com isso, a capacidade olfativa dele é 40 vezes maior que a nossa”, explicou o representante da Guarda Portuária.
PRÊMIO
Na primeira quinzena de maio, os cães foram levados a Mogi Mirim, no Interior Paulista, onde ocorreram o 2º Congresso Municipal K9 e o 13º Campeonato de Cães das Guardas Municipais do Brasil. O pastor-belga-malinois Boomer conquistou o terceiro lugar no campeonato.
“Ao todo, 40 equipes participaram do torneio, de cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Participaram cães treinados para apoio à Políicia Rodoviária Federal, que atuam em aeroportos e que foram utilizados nos deslizamentos de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, e na serra do Rio de Janeiro. São animais de extrema capacidade. E nesse cenário, a Guarda Portuária conseguiu obter o êxito de chegar em terceiro lugar. Foi uma conquista muito marcante para nós” finalizou Robson.
Fonte: A TRIBUNA